Pequena introdução à Performance



Antes de ler este artigo, veja no final da postagem anterior, o Videodocumentário do projeto Laboratório Performático.






Abordaremos aqui os aspectos constitutivos da Performance, e principalmente suas diferenciações em relação ao teatro e dança, possibilitando sua distinção, sendo que podemos dizer que tanto quanto as demais artes, a Performance age como um conjunto de técnicas que possibilitam a sua realização. Porém, sabemos que estes mesmos métodos estão cada vez mais próximos e muitas das técnicas de uma área esta presente em outras. Esta condição é extremamente positiva, pois estes procedimentos cambiados demonstram uma transdiciplinaridade que condiz com nosso “Espírito” contemporâneo, mas apesar de a Performance, como filha mais jovem, ter como método muitas práticas decorrentes das artes visuais, teatro e dança, ganhou estatuto de linguagem, devido as suas singularidades.



A Performance nasce das experiências anti-arte do pós-guerra, a partir de duas manifestações contra culturais, o happening e a body-art, ambos calcados na live-art, que toma como partida a vida do próprio artista e sua transformação em objeto de arte. Dos happenings, a performance recebe as experiências extáticas e a experimentação sinestésica, e da body-art, a condição do tempo real (e não mais o ficcional) no corpo.
O performer diminui a dicotomia cênica e admite sofrer em vida o ato artístico. Na encenação clássica, quando Romeu toma veneno, quem morre é a personagem, e não o ator. Neste exemplo, temos um alto grau de dicotomia. Aceitamos ator e personagem co-habitando o mesmo corpo em tempos diferentes, o real e o simbólico. Já na Performance, a ação é totalmente contrária.


Por exemplo, na Performance 220V, de Cris Burden, os performers entram numa piscina e recebem diretamente uma descarga elétrica, em tempo real. Fica clara aí a opção de tempo e espaço adotada na experiência performática, que faz com que os participantes estejam em vida (e não apenas simbolicamente) presentes na ação.













Outro artista que vale citar é Joseph Beuys, na Performance “I like américa and America likes me”, na qual passa um longo período co-habitando uma galeria de Nova York junto a um coiote. No caso, Beuys está arriscando sua integridade física, o que indica um outro ponto muito importante para a caracterização da Performance: o risco. Temos aqui um primeiro elo de conexão entre Performance e atos de vida, pois os artistas estão “ao vivo” nos seus momentos de celebração, podendo passar por qualquer tipo de incidente inesperado.



O uso de mídias também é uma das facetas da Performance, como podemos ver no trabalho do brasileiro Otávio Donasci. Elas funcionam como catalisadoras do processo criativo do performer. Abaixo Video-Criaturas.










Recentemente esteve no Brasil, Marina Abramovic, que passa semanas em museus dispondo sua vida intima em público, e mais uma vez não interpreta, mas permanece ela mesma, enquanto identidade, o que faz lembrar muitos momentos da dança, em que os bailarinos estão presentes, mas com a ressalva de estarem pautados por uma linguagem coreográfica, afastando o bailarino da linguagem da Performance, e o colocando dentro da dança, com seus próprios signos característicos.








O autor e pesquisador Richard Schechner no Departamento de Estudos da Performance da Tisch School of the Arts/New York University, aponta a proximidade entre o ritual e a performance, por se tratar de uma experiência de limite: tanto na performance cênica artística quanto no ritual, o padrão processual implica em separação, transição e incorporação, citando as fases da iniciação ritual. Usando suas categorias, Schechner considera o preparo técnico, o laboratório e o ensaio como ritos preliminares, de separação.




A Performance em si é a liminaridade, análoga aos ritos de transição.



O relaxamento e o retorno são pós-liminaridade, ritos de incorporação.





Através dessas fases, acentuadamente marcadas, as pessoas iniciadas no ritual sofrem transformações permanentemente, enquanto que nas performances, de um modo geral, as transformações são temporárias. Schechner as denomina, então, “transportações”. Para ele, como as iniciações, as performances fazem de uma pessoa, outra.





















Mas diferentemente das iniciações, performances geralmente tratam daquilo que o performer recobra de seu próprio eu, e pode determinar uma saída para encontrarmos uma definição mais clara, pois, o fato de a pessoa estar em um momento presente e ocupando conscientemente o espaço físico, faz com que seja um ato performático.



Não é pautado por outra linguagem que não a própria definição do eu enquanto devir do mundo que guia o atuante, o que não impediria o performer de alcançar transformações mais duradouras, por que esta em suas mãos com qual intensidade, e com que compromisso ele entrará no estado que está buscando.

















A partir desta introdução, espero ter ampliado um pouco o campo de características que compõem a linguagem da Performance, que é muito mais complexa que estas linhas e muito mais determinada historicamente do que imaginamos.


Veja o documentário abaixo.

Fotos e Documentário do projeto Laboratório Performático




























































Video documentário Laboratório Performático


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